O Presidente russo, Vladimir Putin, declarou que o mundo está a entrar numa nova e inevitável "era policêntrica" ou multipolarizada, onde nenhuma potência singular pode ditar as regras globais, e aproveitou a ocasião para emitir um alerta à Europa contra a militarização.
Num extenso pronunciamento feito na sexta-feira, o líder russo utilizou o fórum de discussão Valdai para apresentar a sua visão de uma nova ordem mundial, na qual a multipolaridade é "um fenómeno qualitativamente novo" que traz consigo tanto oportunidades quanto riscos.
"Ninguém está pronto para seguir regras estabelecidas por uma pessoa em algum lugar distante", afirmou Putin, criticando a ordem unipolar liderada pelo Ocidente.
Putin argumentou que um mundo multipolar é, por natureza, mais democrático, uma vez que permite que "um grande número de atores políticos e económicos" influenciem os resultados. Segundo ele, "talvez nunca antes no cenário global tenha havido tantos países a influenciar ou a procurar influenciar os processos regionais e globais mais importantes".
No entanto, o Presidente russo insistiu que este ambiente requer um amplo consenso para a governança global. "Quaisquer soluções só são possíveis com base em acordos que satisfaçam todas as partes interessadas ou a esmagadora maioria. Caso contrário, não haverá nenhuma solução viável", sublinhou.
O Presidente russo não poupou críticas às instituições lideradas pelo Ocidente, alegando que estas "perderam o seu significado" ao desviarem-se dos seus mandatos originais para se transformarem em "plataformas para palestras políticas".
Em contraste, elogiou organizações como os BRICS e a Organização de Cooperação de Xangai (OCX), classificando-as como exemplos que refletem um consenso genuíno e um equilíbrio entre os seus membros. "Elas não são contra ninguém, são a favor de si mesmas", disse, contrapondo esta abordagem com o que descreveu como tendências "hegemónicas" do Ocidente.
Durante o seu discurso, Putin também abordou questões internacionais críticas, nomeadamente o conflito no Médio Oriente e a guerra na Ucrânia.
O líder russo manifestou apoio condicional às propostas do Presidente dos EUA, Donald Trump, para uma solução em Gaza. Relativamente à guerra na Ucrânia, Putin manteve a sua postura de atribuir a responsabilidade pela continuação do conflito aos Estados ocidentais, reafirmando a narrativa russa de defesa contra a expansão da influência ocidental.
O alerta de Putin à Europa sobre a militarização insere-se na sua visão de que o continente deve aceitar as novas realidades geopolíticas e evitar seguir as políticas dos EUA, que, segundo Moscovo, procuram manter uma hegemonia que está a desaparecer.
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